Jurema Barreto de Souza




Nasceu em Santo André (SP) em 28 de agosto de 1957. Professora. Editora da Revista A Cigarra, desde 1982, em Santo André,SP, ao lado de Zhô Bertholini, divulgando centenas de poetas do Brasil e exterior, chegando a 42ª edição em 2007, comemorativa dos 25 anos. Foi membro fundadora do Grupo Livrespaço de Poesia , atuando no Projeto Autor/Leitor na Escola.( 1983 -1994), Editou com o grupo a Revista Livrespaço, ( 1992-1994) ganhadora do APCA.
Edita Zine Zero- os cigarristas, poesia, juntamente com Zhô Bertholini, desde 2003
E www.revistacigarra.blogspot.com
Livros publicados: - Papoulas e Amnésias, em co-autoria com José Marinho do Nascimento. Santo André, SP: edição dos autores, 1982.
- Dalilas Siamesas. Santo André, SP: Edições Livrespaço, 1987
- Poética da Ternura. Santo André – SP: Edições Alpharrabio, 1986.
- Policromia- 30 anos de poesia - Santo André – SP – A Cigarra edições – 2010

Fonte: enviado pelo autor



Herdeiros

Herdamos as ferramentas
e a febre de construir imagens
recusando sinais de tormentas
pintamos invisíveis miragens,
nossas cores não descansam.
Voláteis nossas almas
criam novos pigmentos
estamos na calma das luas
e na urgência de enfrentamentos.
Destino, continuar a linhagem
de quem tenha a palavra
como sua mais cara bagagem.




Setembro

Só crio pássaros em árvores.
Reconheço um sabiá
que me acorda acompanhado
por um coro de pardais,
privilegio urbano
de insiste em
deixar crescer sementes
das quais ignora o nome.
As raízes quebram o asfalto,
o tédio da calçadas
lajotas simétricas
verdes, cinzas,
desenhadas pelo tempo.
Amanhece sempre
através dos séculos,
mas ainda há pássaros
em setembro.




Na lona

Quando ele me morde a nuca
arrepio salto mortal
garras, kama sutra, tigre do Nepal.
Nesta hora nem sei se há tigres
nem onde é o Nepal, tudo circo
domador e domada, cinqüenta graus.
Toda rima é casual
contorcionista, de ponta cabeça
o mundo parece que é normal.
Maçã do amor, lambuzada
a boca fresca de água recente
indecente sorri do perigo
do grito, só mágicas, sem mitos.
Uma bailarina suspensa
no arco invisível que salta
sobre o cavalo branco
em círculos na serragem do tempo.
Trapezista confio na mão do artista
no espaço vazio a cada momento
sou outra para que ele tenha
em mim todas as mulheres.
  


Os meus livros

Os meus livros me conhecem
pelo tato quando os toco
arrepiando suas páginas
como um gato fiel a casa,
casa que sou das palavras
das histórias que li de outros
dos poemas que escrevi de mim.
Os meus livros me olham
quando entro na sala
e sabem que os amo no silêncio
passando os dedos por suas lombadas.
Os meus livros passaram comigo
pelas provas de fogo da vida
pelas angustias de crescer.
Janelas, me deram paisagens.
Oráculos, me deram respostas.
Naves, me deram viagens interestelares
e fugas mágicas rumo a alegria.
Meus livros que me conhecem
impregnados estão da minha vida
aqueles que li e os que escrevo
darão, a quem interessar possa,
breves notícias de mim.
Jurema Barreto de Souza
Retrato ao vivo
Ali, parado e silencioso
olha a rua, distante
como que pintado
na moldura da tarde.
Toco seus cabelos
com os sentidos ocultos
dos poetas videntes.
Sei que por dentro
sua alma em movimento
trama outro poema.
À sua volta o mundo
é um ornamento.
Os gestos se sucedem,
espero, como quem espera
um peixe dourado e mágico
saltar de um lago azul,
suas próximas palavras.
E sua voz sempre surpreende
como um bem-te-vi inesperado.
Um homem com um mistério,
testemunha ocular da história.
Eu, detetive do absurdo,
sigo suas pistas, suas trilhas.
Basta-me este homem
desenhado na tarde
como um grafitti
nos muros da cidade.



Nenhum comentário:

Postar um comentário